E O FUTEBOL RESPIRA!
- Pote de Conserva
- 12 de out. de 2016
- 4 min de leitura
“O título de campeão inglês do Leicester é um retrato da meritocracia”
Uma vez um comentarista da BBC brincou com o técnico de um certo time inglês: “O objetivo segue fazer o time escapar do rebaixamento, não é chegar a Champions League; talvez a Liga Europa.”. O técnico riu e respondeu: “Obrigado, Gary, mas isso não será possível.”
Dois de maio de 2015. O Leicester City Football Club amargava uma dura batalha contra o rebaixamento, na última colocação da Premier League. Batalha esta que, talvez por um milagre, venceria, permanecendo por mais uma temporada na elite inglesa.
Dois de maio de 2016. O Leicester City Football Club é campeão inglês, após o empate entre Chelsea e Tottenham. Um título inédito e histórico.
Mas o que há de tão importante nesta conquista?
Logo que o Leicester assumiu a ponta definitiva da tabela do campeonato ele ganhou a simpatia de amantes do esporte do mundo inteiro por ser um competidor improvável. A força e o apoio internacional recebidos pelo clube foram reflexo disso. Quem superaria toda a tradição de Manchester United? Ou estaria a altura do elenco supervalioso de Manchester City? Que torcida seria capaz de calar a gigante do Liverpool? A resposta veio de azul e branco, furtiva como uma raposa, da cidade de Leicester, de Leicestershire.
Fundado em 1884 como Leicester Fosse, o clube só foi admitido na Football League em 1894 e, apesar de centenário, era considerado de média expressão na Inglaterra. Seu elenco campeão foi barato, tendo custado, ao todo, £32,5 milhões de libras (cerca de R$ 168,5 milhões de reais), £17 milhões de libras a menos que um único jogador do Manchester City (Raheem Sterling, de 21 anos). O Leicester City nunca obtivera grandes feitos na primeira divisão do campeonato inglês, sendo sua melhor campanha a referente ao vice-campeonato da temporada 1929-30, mas com boa história na segunda divisão, com sete títulos em onze passagens por ela.

E qual seria, afinal, a receita para o sucesso do time comandado por Claudio Ranieri? Como o próprio técnico costuma ressaltar: Trabalho e perseverança. E posso assegurar que, com essas características, o título de campeão inglês do Leicester é um retrato da meritocracia.
Uma lição valiosa sobre a meritocracia a qual Leicester se dobrou foi dada pelo técnico italiano numa carta aberta aos torcedores: “Não importa o que aconteça no fim desta temporada, penso que nossa história é importante para todos os fãs de futebol em todo o mundo. Isso dá esperança para todos os jovens jogadores que já escutaram que não são bons o suficiente. Eles podem dizer para eles mesmos: ‘Como posso chegar ao topo? Se Vardy conseguiu, se Kanté conseguiu, talvez eu também consiga’. Do que você precisa? Um grande nome? Não. Um grande contrato? Não. Você precisa apenas manter a mente aberta, o coração aberto, as baterias recarregadas e correr livre. Quem sabe? Talvez, ao final da temporada, nós teremos duas festas da pizza.”
Analisando e comparando as duas últimas temporadas, Leicester não simplesmente evoluiu tecnicamente, ele provou que o que falta no futebol mundial é a raça. Com um elenco barato, sem estrelas, no qual muitos dos jogadores haviam sido descartados por times maiores, Os Foxes tinham características que muitos hoje em dia, com o mesmo potencial, não têm: Força de vontade individual, compromisso e, principalmente, paixão.
Desde o início da temporada havia um ideal e ele foi e é mantido até o fim: “Joguem com o coração.”
O que motivou esse time? Talvez o sofrimento de uma torcida fiel em qualquer momento, ou até mesmo as pizzas que o ‘professor’ lhes deu direito a cada jogo sem levar gols (que os próprios jogadores preparavam, inclusive). E, realmente, isso não importa. O fato é que a história do futebol inglês, e, devo arriscar, mundial, mudou para sempre e o Leicester City provou de uma vez por todas que quem trabalha com dedicação, com objetivos maiores e foco, sempre tem sua recompensa.

Nem posso imaginar a revolução que isso causou no cenário esportivo, nem mesmo mensurar a emoção que senti quando o jogo entre Chelsea e Tottenham terminou. Esse é o estandarte que os amantes do futebol há muito esperavam ver no céu. O futebol respira, pois nem tudo está perdido. O Blue Army marcou naquela segunda feira, dois de maio de 2016, por meio de sua grande conquista, a história, e gritou para o mundo inteiro escutar: Não é só um jogo! O futebol não está morto!
Dizem que a vitória heroica do Leicester na Premier League foi um conto de fadas. Eu concordo. Acrescento ainda que assim como tantos outros, tornou-se real. Como disse G.K Chesterton uma vez, “Contos de fada não dizem às crianças que dragões existem. Crianças já sabem que dragões existem. Contos de fada dizem às crianças que dragões podem ser mortos”. E os dragões foram mortos. Os dragões da tradição. Os dragões do dinheiro. Os dragões das torcidas vorazes. Os dragões dos treinamentos de máxima excelência. E, principalmente, os dragões do impossível.
Parabéns Schmeichel, Wes Morgan, Huth, Drinkwater, Kanté, Mahrez, Vardy, Ulloa, Inler e tantos outros. Parabéns Ranieri e Srivaddhanaprabha. Parabéns torcedores, parabéns Leicester. Parabéns Futebol, que não se rende e jamais desiste. E que nosso lema siga sendo o mesmo que guiou e marcou os Raposas Azuis nesse jornada inesquecível: FOREVER FEARLESS.

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