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O QUE EU TENHO LIDO?

  • Foto do escritor: Pote de Conserva
    Pote de Conserva
  • 14 de out. de 2016
  • 3 min de leitura

Tenho pensado em mim enquanto leitora. Passo páginas e páginas, corro os olhos pelos parágrafos e sinto aquelas mesmas emoções, sentimentos, vertigens, alegrias e infelicidades dos personagens. E tudo parece tão falso. Bem ao contrário do que deveria ser. Acredito que a literatura tem perdido sua essência. Aquele motivo de existência que beira o clichê. Revolução, originalidade, inspiração, motivação, esperança, transformação, espírito. Não é mais isso. São sempre histórias de moças que se leiloam em razão de um “amor verdadeiro”, entregando-se os corpos, ou extremamente fortes e sem qualquer medo. São sempre histórias de rapazes meio irônicos, com um ‘q’ de canalhas. Isso quando não são frouxos, chorões e totalmente dependentes.

Tenho pensado em mim enquanto autora. Não produzo tanto, e quando produzo, é vazio. Não sou eu, é a maré. A mesma maré dos frouxos rapazes e das tolas moças. A mesma maré do clichê e da total ignorância, estupidez e banalidade. Digito minhas palavras nesta máquina e tudo o que sai são vocábulos ao léu, nada sentido, nada vivido, nada querido. O que eu tenho lido? E o que eu tenho visto ou escrito?

A verdade mais verdadeira é que o mundo tornou-se um grande poço de boçalidade sem fim. Na insistência de, talvez, ‘quebrar tabus e paradigmas’ e revolucionar, desfiguramos nossos homens, desonramos nossas mulheres, deformamos nosso espírito. Mas a tal ‘revolucionária, original, inspiradora, motivacional, transformadora e espirituosa’ literatura, nada faz. Ela não rompe, não reconstrói, não cria, não inventa, não encanta, não, não, não. Ela tornou-se um simples relato da nossa patética existência e nossa fútil decadência. Ela tomou para si o ser humano. Embebedou-se de nós mesmos e hoje padece de uma espécie dolorosa de cirrose: a Humanidade.

O ser humano, patético, estúpido, ignorante, egoísta, cínico, conseguiu destruir (como sempre faz com tudo), também, a literatura que usávamos justamente para fugir da nossa pífia realidade. E como? Escrevendo sobre ela. Tentando tornar arte o ridiculamente comum e sem graça, o nada artístico, nossa vida.

Perdemos o valor! A honra, a dignidade, nosso gole de vivacidade. Perdemos a moral. E isso está mais evidente que a existência do Sol em dias sem nuvens. Está exemplificado brilhantemente nas nossas “formas de manifestações artísticas”. Nossa insignificância está cravada para sempre nas páginas dos grandes livros. Nossa decadência e falta de senso eternizadas em saraus das universidades federais. Nossa luxúria, ego e vaidade exibidas em vitrines, em cordéis, em quadrilhas, em bordéis. Nós mesmos e nossos pecados que não permitimos serem perdoados.

E o que eu tenho lido? Lixo, sujeira, besteira, relativismos, ideologias furadas, patifarias, natureza humana. O fruto da nossa desgraça e falta de graça. E o que eu tenho escrito? Nada.

Eu quero voltar à essência. Recomeçar. Quero escrever sobre o amor, voltar a acreditar. Escrever como se fossemos honrados, imaculados, morais. Quero escrever sobre a pureza. Sobre a cultura das damas e dos cavalheiros. Sobres os gracejos, os galanteios, as cortesias, a paz, a plena felicidade. Sobre aquilo que ficou perdido. Eu quero escrever sobre a tradição, e quero ter leitores que queiram o mesmo. Reconstruir paradigmas, seguir novas normas sociais, viver do conservadorismo, saudar a vida como sagrada, agitar, animar e dar nova razão. Recuperar o esquecido. Reviver o já vivido. Reconsagrar nossa cultura. Enaltecer mais a nossa história. Ser cidadã da pátria, não do mundo. Ser coração pulsante, não só sobrevivente. Existir e não só ser existente. Quero achar uma solução. Revolucionar a revolução.

 
 
 

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